Desenvolvimento da Criatividade e imaginação na infância por Vygotsky

Desenvolvimento da Criatividade e imaginação na infância por Vygotsky – Artigo enviado pelo nosso parceiro “Professor Marcos L Souza – Pedagogo – Psicopedagogo – Educador.

Desenvolvimento da Criatividade e imaginação na infância por Vygotsky

Para, Vygotsky (1930/1990), ver a criatividade infantil expressa nas brincadeiras das crianças é essencial para o desenvolvimento do Ser humano, desde sua idade bastante precoce. Vygotsky afirma em seu trabalho e pesquisa que, quando uma criança pequena está a imaginar, a mesma está expressando um nível primário de criatividade. Claro que nessas brincadeiras as crianças reproduzem boa parte do que elas veem e vivem, portanto, a maior parte deste comportamento é imitativo, mas esses elementos de experiências anteriores não são sempre reproduzidos nas brincadeiras exatamente como eles aconteceram na realidade, existindo uma recombinação de elementos que combinam e consequentemente ajudam a construir uma nova realidade e que, segundo o autor, estão relacionadas com a necessidade de expressar da criança.

Assim, a brincadeira da criança não é uma mera reprodução, mas recria novas realidades em resposta às suas necessidades. A questão, agora, é a seguinte: como acontece esta atividade criativa combinatória? Em quais condições e a quais leis está submetida? Para responder a esta questão, Vygotsky afirma que a primeira e mais importante lei a que esta atividade está submetida é a lei da aprendizagem. A atividade de imaginação criativa depende prioritariamente da variedade e da riqueza das experiências prévias que a criança vivencia. Quanto mais ricas forem as experiências pessoais, mais material a imaginação a criança terá à sua disposição.

Outra linha de pensamento desenvolvida por Vygotsky, é que a criatividade não é um fenômeno catastrófico ou caótico, mas pressupõe um processo de elaboração e maturação biológica e social, pois a organização do material “Experiência” é um processo complexo. Para este autor, a fantasia ou imaginação está ligada a um processo de associação e dissociação – habilidade de selecionar diferentes características de um todo complexo. Na associação a criança percebe os fatos como um todo. Na dissociação ela o divide em partes, comparando-as. Assim, algumas delas se mantêm e outras são esquecidas. Esta análise dos acontecimentos é importante para a ação futura, pois, ao processo de dissociação, segue o processo de mudança, no qual os elementos dissociados são internalizados e alterados de acordo com suas necessidades e motivações

Outro elemento que compõe o processo de imaginação é a associação (síntese), que corresponde à união de elementos dissociados aos alterados citados anteriormente. Um terceiro fator no trabalho da imaginação criativa refere-se à capacidade de combinação de diferentes formas, unindo imagens subjetivas com ‘saberes’ objetivos, para, finalmente então, materializar a imaginação numa forma externa, visível, que corresponde ao produto final. Vygotsky também aponta em sua pesquisa uma condição básica para a criação humana que seria o coeficiente social. Isto significa que o indivíduo só cria se tiver condições sociais para criar. Nesses termos, nenhuma criação é exclusivamente pessoal. Outra questão que se coloca é o que distinguiria a criatividade infantil da criatividade adulta? Existe algum elemento particular que compõe a imaginação da criança que não está presente na imaginação do adulto? A esta altura Vygotsky discute o fato de estar bastante presente no senso comum a ideia de que a criança é mais imaginativa que o adulto, e ainda, que é na infância que a fantasia mais se desenvolve. Para Vygotsky, este não é o ponto de vista científico, pois a experiência infantil é qualitativamente mais pobre do que a do adulto. Então, sua  relação com o mundo não tem a mesma complexidade e diversidade que podemos distinguir no adulto. Para Vygotsky o mundo experimental da criança e sua capacidade de reorganizá-lo internamente é menor, e isso é a base para o desenvolvimento e do processo da criatividade humana. Assim, no sentido de maturação biológica a imaginação também amadurece e se transforma. A princípio o desenvolvimento da imaginação e da razão acontece de forma separada, com uma relativa independência nestes dois processos na infância. Além de a criança ter menos experiência do que o adulto, ela perde na sua capacidade de fazer relações combinatórias deste material (sínteses combinatórias).

A imaginação infantil seria, então, um primeiro nível de desenvolvimento da maturação criatividade adulta. No adulto, imaginação criativa estaria mais próxima do pensamento abstrato e a razão passa a se misturar com a imaginação. Em oposição à tendência de supervalorizar a criatividade como função isolada, Vygotsky enfatiza o papel do pensamento e de outras funções psíquicas, como a imaginação e a memória, no processo criativo. Além disso, uma de suas principais teses diz respeito ao desenvolvimento da criatividade durante o ciclo de vida, questão também pouco abordada pela psicologia da gênese e criatividade. Embora não trace períodos fixos no desenvolvimento das funções humanas, sob a perspectiva de desenvolvimento da criatividade durante a vida, para ele, a criança tem, necessariamente, a criatividade menos desenvolvida que o adulto. Vygotsky deixa claro, ainda, que o desenvolvimento da criatividade não acontece isolado das funções psíquicas que se desenvolvem no ciclo de vida da criança. Pelo contrário, ele se dá numa relação estreita com outras funções como a imaginação, o pensamento, a memória e o meio social.

O autor entende que nos primeiros anos de vida, a memória é uma das funções psíquicas centrais, em torno da qual se organizam todas as outras funções. Assim, ressalta que o pensamento da criança de pouca idade é fortemente determinado por sua memória. Segundo ele, para a criança pequena, pensar é recordar, ou seja, apoiar-se em sua experiência precedente, em sua variação. Para Vygotsky e seus colaboradores, a experiência da criança, documentada na memória por causa dos sentidos que representa, determina toda a estrutura do pensamento e suas variações (atividade criativa) nas primeiras etapas do desenvolvimento. Assim, podemos afirmar que, a criatividade da criança na primeira infância está diretamente relacionada com a memória e com outras funções psíquicas que tenham sentido e significado para ela. O autor então apresenta relatos de pesquisa sobre o desenvolvimento da memória em crianças de seis, sete e oito anos e conclui que, apoiando-se nos instrumentos que lhes eram apresentados, passavam a construir novas relações. Essa etapa é conhecida como a de utilização de signos externos nas operações internas, formando novos enlaces, ou seja, a criança organiza seus estímulos para executar sua reação, ou seja, o processo de interiorização.

Através deste processo a criança assimila a própria estrutura do conhecimento adquirido incorporando as regras utilizadas nos  signos externos e consequentemente operam mais facilmente com eles. Ao tratar de fases posteriores do desenvolvimento, Vygotsky chama a atenção para a ligação entre a imaginação do adolescente e o brincar da criança. A imaginação do adolescente seria o sucessor da brincadeira infantil. No entanto, a diferença básica entre os dois processos é que a fantasia na criança estaria mais ligada à realidade concreta, ou seja, a imaginação da criança diverge muito pouco da realidade. Já a imaginação no adolescente estaria mais ligada ao intelecto, sem desprezar as necessidades e emoções que também estão na base desta função. Mas, o adolescente tem a capacidade de imaginar, criar e mudar criticamente a situação concreta em que se encontra. E ainda com relação à adolescência, Vygotsky esclarece que a visão tradicional, que concebe a imaginação e fantasia como funções centrais no desenvolvimento do adolescente, é incompleta, pois só considera um lado destas funções. O lado que está relacionado com a emoção, o impulso e o humor.

O outro lado da imaginação, relacionado com o pensamento e a vida intelectual fica obscurecido. Ainda ao tratar da fantasia, o autor lembra que esta não se desenvolve como uma função completamente independente das outras. Seu desenvolvimento é uma consequência do desenvolvimento do adolescente como um todo e se conclui num complexo processo de mudança que toda a mente do adolescente que está submetida. Assim, o desenvolvimento da fantasia, na adolescência, não é oposto ao desenvolvimento do pensamento abstrato e da formação de conceitos. Quando Vygotsky se dedicou ao estudo da criatividade e da imaginação nas crianças, as pesquisas sobre este tema ainda não existiam como as conhecemos hoje. Apesar disso, a concepção de criatividade traçada por Vygotsky oferece uma base fundamental para compreendermos o papel do social e do cultural na aquisição e formação do Ser criativo, questão de inegável importância nas modernas abordagens sobre criatividade (vide Csikczentmihaly 1999, Mitjáns Martínez 1997, Simonton 2002, dentre outros).

Já na década de trinta, Vygotsky questionava a noção comum de que a criatividade seria um fenômeno raro e natural da essência humana. A criatividade é, para este autor, um processo presente na realidade cotidiana que acompanha o Ser humano desde sua precoce idade. Esta atividade obedece, portanto, duas formas básicas de construção: a primeira seria a reprodução de fatos anteriormente vividos, ligada diretamente à memória; e a segunda seria a capacidade que o organismo humano tem, devido à plasticidade do sistema nervoso e da imaginação, de mudar o que foi mantido na memória, criando e desenvolvendo novos hábitos.

Vygotsky afirma que a capacidade criativa está relacionada com a habilidade humana de lidar com a mudança. Num dos poucos artigos que escreveu sobre a imaginação e a criatividade, Vygotsky deixa claro que qualquer atividade humana não representa uma reprodução integral do que aconteceu, mas a criação de formas ou atividades, originadas de uma segunda classe de criatividade ou comportamento combinatório. Por outras palavras, o cérebro não é um órgão que só mantém e reproduz nossas experiências anteriores, mas que cria e combina elementos numa nova situação e comportamento. E continua afirmando que “a atividade criativa faz o seguinte: está atenta para o futuro, criando-o e mudando a visão do presente”. Para este autor, o que diferencia a cultura humana do mundo natural é exatamente a criatividade, que está relacionada com a capacidade de mudança, com a imaginação e com o pensamento.

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