Brinquedos e brincadeiras nos espaços escolares

Brinquedos e brincadeiras nos espaços escolares – A brincadeira é uma palavra estreitamente associada à infância e às crianças. Porém, ao menos nas sociedades ocidentais, ainda é considerada irrelevante ou de pouco valor do ponto de vista da educação formal, assumindo frequentemente a significação de oposição ao trabalho, recreação, bagunça, desordem, tanto no contexto da escola quanto no cotidiano familiar (Borba, 2006).

Brinquedos e brincadeiras nos espaços escolares

Na opinião de Borba (2006), a significativa produção teórica já acumulada afirmando a importância da brincadeira na constituição dos processos de desenvolvimento e de aprendizagem não foi capaz de modificar as ideias e práticas que reduzem o brincar a uma atividade à parte, paralela, de menos importância no contexto da formação escolar da criança. Por outro lado, podemos identificar hoje um discurso generalizado em torno da “importância do brincar”, presente não apenas na mídia e na publicidade produzidas para a infância como também nos programas, propostas e práticas educativas institucionais. Como ressalta a referida autora, tanto a dimensão científica quanto a dimensão cultural e artística deveriam estar contemplados nas nossas práticas junto às crianças, mas para isso é preciso que as rotinas, as grades de horários, a organização dos conteúdos e das atividades abram espaço para que possamos, junto com as crianças, brincar e produzir cultura.

A autora destaca ainda, que a brincadeira está entre as atividades frequentemente avaliadas por nós como tempo perdido e que essa visão é fruto da ideia de que a brincadeira é uma atividade oposta ao trabalho, sendo por isso menos importante, uma vez que não se vincula ao mundo produtivo, não gera resultados. Borba (2006) enfatiza também que é essa concepção que provoca a diminuição dos espaços e tempos do brincar à medida que avançam as séries/anos do ensino fundamental. Seu lugar e seu tempo vão se restringindo à “hora do recreio”, assumindo contornos cada vez mais definidos e restritos em termos de horários, espaços e disciplina: não pode correr, pular, jogar bola etc. Sua função fica reduzida a proporcionar o relaxamento e a reposição de energias para o trabalho, este sim sério e importante. De acordo com Perrotti (1990, p.20): “A racionalidade do sistema produtivo torna o lúdico inviável, pois o tempo do lúdico não é regulável, mensurável e não estimula a criatividade sem tempo para tal.

Veja também: O brincar como experiencia de cultura.

Toda tentativa de subordinar o brincar ao tempo da produção, provoca sua morte. Por isso ele é banido da vida cotidiana do adulto e permitido nas esferas discriminadas dos “improdutivos”.

O lúdico, dentro do mecanismo do sistema, é a sua negação. Em seu lugar permite-se o lazer, o não-trabalho, coisa totalmente diferente do lúdico, que é o jogo, a brincadeira, a criação contínua, ininterrupta, intrínseca à produção”. Segundo Wajskop (1999), a brincadeira é uma forma de comportamento social, que se destaca da atividade do trabalho e do ritmo da vida, reconstruindo-os para compreendê-los segundo uma lógica própria, circunscrito e organizado no tempo e no espaço. Mais que um comportamento específico, a brincadeira define uma situação onde esse comportamento adquire uma nova significação.

Como atividade social específica, ainda, a brincadeira é partilhada pelas crianças, supondo um sistema de comunicação e interpretação da realidade que vai sendo negociado passo a passo pelos pares, à medida que este se desenrola. Da mesma forma, implica uma atividade consciente e não evasiva, dado que cada gesto significativo, cada uso de objetos implica a reelaborarão constante das hipóteses sobre a realidade com os quais se está confrontando. A criança que brinca pode adentrar o mundo do trabalho pela via da representação e da experimentação; o espaço da instituição deve ser um espaço de vida e interação e os materiais fornecidos para as crianças podem ser uma das variáveis fundamentais que as auxiliam a construir e apropriar-se do conhecimento universal (Wajskop, 1999). Perrotti (1990) afirma que o tempo do lúdico não pode ser jamais o da produção capitalista.

Daí, o lúdico identificar-se com a criança, já que ela não está apta para o sistema de produção em virtude de o espírito da racionalidade não ter conseguido ainda  domá-la. Porém, “ com o tempo, ela trocará seus sonhos, seu tempo, pelos privilégios parcos oferecidos pelo sistema; premida pelas exigências, ela sucumbirá à racionalidade” (p.20).

As crianças não brincam de brincar. Brincam de verdade – Mario Quintana


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