Cursos de Pedagogia não priorizam a didática

Cursos de Pedagogia não priorizam a didática
Cursos de Pedagogia não priorizam a didática (NOVAESCOLA)
ESCRITO POR: Maíra Kubík Mano

Estudo reforça que as graduações não ensinam o quê e como ensinar aos futuros professores


Não é novidade que pouco se aprende sobre o quê e o como ensinar nos cursos de Pedagogia. Em outubro de 2008, uma pesquisa da Fundação Carlos Chagas (FCC) feita a pedido da Fundação Victor Civita (FVC) e publicada por NOVA ESCOLA demonstrava bem essa situação. Àquela altura, menos de 30% das disciplinas nos cursos espalhados por todo o país se referiam à formação profissional específica (20,5% a metodologias e práticas de ensino e 7,5% a conteúdos). Já as matérias voltadas para o funcionamento dos sistemas educacionais e os fundamentos da Educação correspondiam a 42% dos currículos. 

De lá para cá, quase nada mudou. Mas há um fato novo nessa história: comprovou-se que a balança sempre pesou para um lado, desde os primeiros passos da Pedagogia na universidade brasileira. Essa é a conclusão de um estudo feito pelo pesquisador Bruno Bontempi Jr., professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). Segundo Bontempi, a pouca ênfase na didática tem suas raízes na fundação da própria USP, há quase 80 anos. 
A universidade nasceu em 1934 da fusão entre a recém-criada Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) e as já existentes faculdades de Medicina, Direito, Farmácia e Odontologia, além da Politécnica e da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq). “A FFCL surgiu como parte da promessa de criar uma nova elite, alicerçada nas Ciências Sociais, em contraposição à que vinha dos tempos imperiais e era formada por médicos, engenheiros e advogados”, afirma o pesquisador. “A base desse projeto era uma faculdade de estudos desinteressados, ou seja, sem aplicabilidade profissional.” 
Acontece que o Instituto de Educação Caetano de Campos, que na mesma época formava e aperfeiçoava professores, administradores, técnicos e orientadores de ensino, também foi anexado à USP como parte da FFCL. Resultado: em um ambiente que se pretendia de reflexão e altos estudos, encaixou-se uma escola com vocação essencialmente prática. Daí em diante, conta Bontempi, a licença para o Magistério secundário passou a ser concedida apenas aos alunos que tivessem concluído a graduação na FFCL e também o curso de formação pedagógica no instituto. “Isso acabou provocando um enorme ruído”, diz o pesquisador. “Enquanto os primeiros catedráticos da faculdade eram estrangeiros de renome no Brasil, os que vinham do instituto eram os chamados normalistas, sem Ensino Superior e olhados de cima para baixo pelos próprios colegas de universidade.” 
Em 1939, veio a reforma curricular que cristalizaria essa situação. Instituiu-se na FFLC o modelo 3+1: três anos do curso dedicados ao ensino de disciplinas específicas e apenas o último reservado a Pedagogia e didática. “Isso só reforçou a ideia de que o conhecimento didático tinha menor importância”, afirma Bontempi. As questões teóricas ligadas a fundamentos, segundo o pesquisador, seriam vistas para sempre como as de real interesse. “Até hoje funciona assim.” 
Para a historiadora Lucilene Pisaneschi, autora do livro Formação Inicial de Professores, a hegemonia das disciplinas teóricas gerais na FFLC acabou sendo replicada na maioria das instituições de Ensino Superior do país. “Decidiu-se na USP que a formação de professor era algo de segunda ou terceira categoria, e essa concepção foi se multiplicando Brasil afora.” A esperança, agora, é que as novas diretrizes para a abertura de cursos de Pedagogia ajudem a corrigir essa distorção (leia o quadro abaixo). Ou que, pelo menos, elas sirvam de pontapé inicial para um amplo debate sobre a formação dos professores que educarão os brasileiros nas próximas décadas.

Capacitação profissional

Novos cursos de graduação terão de priorizar as didáticas específicas de cada disciplina 

As novas diretrizes para a criação de cursos de Pedagogia, aprovadas pelo Ministério da Educação (MEC) em junho de 2010, não deixam margem a dúvidas: o objetivo prioritário deve ser a formação de professores para a Educação Infantil e os anos iniciais do Ensino Fundamental. Na prática, isso quer dizer que, quanto maior for a vocação dos novos cursos para a capacitação profissional, maior será a chance de eles terem sua abertura autorizada. Espera-se, com isso, que os educadores formados por essas instituições cheguem às salas de aula mais qualificados para lidar com os eixos de trabalho de creche e de pré-escola e as didáticas específicas das disciplinas do 1º ao 5º ano.
Esta postagem foi retirada do site NOVAESCOLA e escrito por Maíra Kubík Mano – todos os direitos são dos mesmos.