USP tem 11 cursos sem nenhum aprovado pelo Sisu

Pela primeira vez neste ano, a Universidade de São Paulo (USP) participou do Sistema de Seleção Unificada (Sisu). A notícia foi comemorada. Afinal, a universidade mais concorrida do país estava abrindo as suas portas para o Enem, ao destinar 1.499 vagas, distribuídas em 140 cursos, para o programa do governo federal. Mas, ao que parece, a comemoração durou pouco.
Logo que começaram as inscrições, veio o susto. Para poder se inscrever em alguns cursos ofertados, era preciso ter uma média alta, mais de 650 pontos. E nos dias que se seguiram, acabou ficando cada vez mais difícil. Tanto que no final do Sisu, 11 cursos da USP terminaram sem nenhum aprovado. Além disso, 18 não preencheram todas as vagas. O número de vagas ociosas soma 154, em torno de 10% das 1.499 oferecidas pela universidade neste processo. A grande maioria das vagas foi destinada a cotas para negros e egressos de escola pública.

Candidatos deveriam ter nota entre 650 e 700 pontos mínimos em cada área do conhecimento

Praça do relógio da USP (Foto: Cecília Bastos/USP Imagens)

Nestes cursos, até o último dia de inscrições, 20 deles estavam sem nota de corte, ou seja, a quantidade de candidatos inscritos era inferior à quantidade de vagas disponíveis. A explicação possível para isto é que a nota mínima exigida era muito elevada: entre 650 e 700 pontos, pelo menos, para cada área de avaliação do Enem. O candidato que tivesse alguma das cinco notas inferior à estipulada ficava impedido de se inscrever.
Cursos sem selecionados
Engenharia Agronômica – Piracicaba 40 vagas
Engenharia Florestal – Piracicaba 8 vagas
Gestão Ambiental – Piracicaba 8 vagas
Engenharia de Alimentos (noturno) – Pirassununga 10 vagas
Medicina Veterinária – Pirassununga 12 vagas
Zootecnia – Pirassununga 8 vagas
Química (integral e noturno) – Ribeirão Preto 11 vagas
Administração (noturno e matutino) – Ribeirão Preto 11 vagas
Ciências da Informação e da Documentação – Ribeirão Preto 8 vagas


Em entrevista coletiva, o secretário de educação superior do Ministério da Educação (MEC), Jesualdo Farias, afirmou que pouco menos de 200 mil candidatos obtiveram média geral acima de 700 pontos – em um universo de quase 5,8 milhões de estudantes que fizeram a prova e de 2,7 milhões de inscritos no Sisu. Frente a isso fica claro que a nota exigida pela Universidade de São Paulo destoava das notas da grande maioria dos candidatos. “A USP usa metodologia de avaliação diferente, com a definição prévia da média mínima. A do Sisu é a definição da nota de corte a partir da procura dos estudantes”, explicou o secretário.

Cursos que não preencheram todas as vagas
Farmácia e Bioquímica – Ribeirão Preto
5 vagas – 2 chamados
Odontologia – Ribeirão Preto 8 vagas – 5 chamados
Ciências da Natureza (matutino e noturno) – São Paulo 36 vagas – 29 chamados
Medicina Veterinária – São Paulo 8 vagas – 1 chamado
Engenharia de Alimentos – Pirassununga 10 vagas – 1 chamado
Engenharia de Biossistemas – Pirassununga 12 vagas – 3 chamados


Notas destoantes

Além de notas altas, outra evidência chamou atenção nos cursos oferecidos pela USP no Sisu: a diferença entre as notas mínimas exigidas no programa federal e as notas de corte desses mesmos cursos na Fuvest (vestibular tradicional que seleciona os candidatos da USP). Alguns dos cursos que exigiam mínimo de 700 pontos têm notas de corte baixas no vestibular USP, É o caso de Ciências da Informação e da Documentação, em Ribeirão Preto, cujo corte foi de 27 pontos no vestibular 2016, e Licenciatura em Química, também em Ribeirão, com 34.
Tentando explicar a situação, a Pró-Reitoria de Graduação da USP disse que as notas mínimas dos cursos foram definidas pelas próprias unidades de ensino nas quais os cursos são oferecidos, razão que explica o motivo de alguns cursos terem nota mínima 450 ou 500 e outros avançarem até 700.
Já a nota de corte no vestibular tradicional funciona mais de acordo com a demanda dos estudantes: para cada curso, são chamados entre 1 e 3 candidatos por vaga. A nota de corte é a pontuação do último candidato selecionado para compor a segunda fase. A seleção de quantos estudantes serão chamados depende do curso: alguns, como Direito, têm demanda alta com mais de 10 mil inscritos; portanto, foram selecionados 2,58 candidatos para cada vaga (o que dá 1154 estudantes chamados). Cursos com menor demanda, como Ciências da Informação, tiveram 0,94 convocados por vaga (30 estudantes chamados).
Perguntada se a universidade está satisfeita com esta primeira participação no Sisu, e se as unidades de ensino planejam reduzir a nota mínima na próxima edição, a Pró-Reitoria ainda não forneceu esclarecimento.
Ainda segundo a universidade, as vagas que não foram preenchidas pelo sistema do Sisu serão ocupadas pelos aprovados no vestibular tradicional.