Revendo a Psicogênese da Língua Escrita

O livro Psicogênese da Língua Escrita, de Emilia Ferreiro e Ana Teberosky, é um divisor de águas no cenário educacional brasileiro. Ele desfoca a discussão sobre o processo de alfabetização.

O foco agora, não está no como se ensina, mas no como se aprende!

Com uma crítica ao método tradicional de ensino, as autoras ressaltam o fracasso escolar dos alunos ao tradicionalismo e com isto, buscam reinventar a educação. O livro Psicogênese da Língua Escrita, de Emilia Fer- -reiro e Ana Teberosky, é um divisor de águas no cenário educacional brasileiro. Ele desfoca a discussão sobre o processo de alfabetização.

A criança não é apenas um ser que ouve e que vê o que lhe é ensinado em sala de aula, mas é uma pessoa com sua própria inteligência e visão de mundo.

Frequentemente, é a criança com uma renda um pouco mais inferior que fracassa, e a escola geralmente, coloca a culpa nesta criança, como falar sobre a prontidão, ou seja, que a criança não teria pré-requisito para fazer a sua aprendizagem.

As autoras defendem a posição de que, pelas crianças serem pobres, elas não são menos capazes, pois todas as crianças, de todas as classes sociais, já trazem de suas casas algumas percepções sobre a escrita, mesmo antes de ingressar no ambiente escolar.

O que vai diferenciar, é a questão de a criança de classe média, já chegar à escola na fase final da alfabetização. Já a criança de uma classe inferior, ela chega na escola com as hipóteses mais primitivas.

O processo de alfabetização é longo e trabalhoso para todas as crianças, independentemente da sua faixa etária!

A escola precisa criar um ambiente alfabetizador, para que todas as crianças possam superar essa distância, e respeitar essas crianças como sujeitos que aprendem, criticamente, que pensam e são curiosos sobre o mundo que o rodeia.

Com relação à alfabetização, essa curiosidade se dá conforme as práticas sociais de leitura e escrita, com as quais a criança tem contato. A escola precisa, então, propiciar esse contato, essas interações para esses sujeitos.

Emilia Ferreiro e Ana Teberosky, são representantes da Psicolinguística Contemporânea!

As autoras defendem, que a criança procura, de forma ativa, compreender a natureza da linguagem. É a criança quem formula hipóteses, quem cria a sua própria gramática. Essa criança, é considerada o sujeito cognoscente piagetiano, ou seja, é um ser capaz de conhecer o mundo que a rodeia.

Por ser ativa, a criança obtém conhecimento sem que este seja transmitido. Neste processo todo, este sujeito vai se deparar com os conflitos cognitivos. Mas é interessante que o professor saiba, que nem todo o conflito é cognitivo.

O conflito cognitivo, ocorre quando a presença de um objeto causa uma perturbação, não assimilável, que força o sujeito a modificar a forma como assimila tudo o que aprende.

O ambiente escolar, deve ser desafiador e possível de se chegar a uma evolução do aprendizado na fase de alfabetização. A criança em si não é perfeita, mas tem a possibilidade de carregar consigo erros construtivos, que no futuro, são possíveis de serem concertados.

As autoras fazem críticas no sentido de que a escola não permite que o sujeito faça antecipações ou que ele faça autocorreções!

Quando o sujeito erra, o erro é entendido de uma forma equivocada pela escola tradicional. O professor faz as correções, sem permitir que a criança reflita sobre este erro.

Nem todas as crianças compreendem esse caráter mecânico da ‘ditadura’ na escola e não entendem o sentido do texto. O professor corrige bastante a pronúncia das palavras, para que seja feita de forma correta.

Assim, acaba impondo as regras da classe dominante. Ela introduz um conteúdo ideológico, desde o início do processo de alfabetização. Esse processo continua, nos livros didáticos.

Emilia e Ana, utilizam a terminologia de níveis estruturais da linguagem escrita para explicar as diferenças individuais e os ritmos diferentes dos alunos.

As autoras descrevem as transformações em quatro níveis diferentes, como a hipótese pré-silábica, a intermediária, a hipótese silábica, a silábica-alfabética e a hipótese alfabética.

Na primeira hipótese (pré-silábica), a criança começa a estabelecer diversas diferenciações entre o desenho e a escrita. É a fase das garatujas. Ela entende que, tanto o desenho quanto a escrita são formas de representação, mas a escrita da criança ainda não é possível de se compreender.

Nesse nível, a criança escolhe qual é a forma mais familiar para ela, seja a letra palito, a letra cursiva, para usar nas suas hipóteses de escrita!

É uma escrita convencional, são rabiscos, pelos quais a criança está fazendo uma evolução em seu aprendizado, ou seja, pequenas diferenciações entre o desenho e a escrita.

Nesse nível, a criança não reconhece o vínculo entre a fala e a escrita, pois supõe que o ato de escrever seja uma forma de desenhar, mas demonstra a intenção de escrever e supõe que a escrita represente o nome dos objetos e não os objetos. Por exemplo, para objetos grandes, a palavra deve ser grande. Para os objetos pequenos, a palavra deve pequena.

No nível intermediário, a criança começa a ter consciência que existe uma relação entre a pronúncia e a escrita, além de vincular o que escreve, com as imagens representando o número das letras, ela começa a desenvolver hipóteses, a partir do seu nome e o que gera uma certa estabilidade.

Na fase silábica, ela supõe que a escrita representa a fala, assim como, a menor unidade da língua seja a sílaba. Em frases, ela pode escrever uma letra para cada palavra. Ela usa uma letra para representar cada sílaba.

Na hipótese silábica-alfabética, a criança compreende que a escrita representa o som da fala, combina só vogais ou só consoantes, fazendo grafias equivalentes para palavras diferentes. Por exemplo, ela pode escrever ‘au’ para gato, pato, assim como, ‘ml’ para mola, mula.

Pode combinar vogais e consoantes numa mesma palavra, ou até mesmo, numa tentativa de combinar os sons, mas a sua escrita ainda não é socializável. Neste momento, o professor fica encarregado de questionar a criança sobre o que ela quis escrever.

Na hipótese alfabética, a criança passa a entender que a escrita tem uma função social e ela compreende que cada um dos caracteres da escrita corresponde aos valores menores que a sílaba, pois conhece o valor sonoro de todas as letras. Ela pode ainda, nesta fase, omitir letras, misturar as hipóteses alfabética com a silábica, porém, ela não está ortográfica ainda.

É importante que o professor desenvolva trabalhos desafiantes, que possam ser compreendidos por todas as crianças!