Sócio-interacionismo de Vigotsky

Sócio-interacionismo de Vigotsky – Numa abordagem científica sobre aquisição da linguagem escrita, não se pode deixar de dar o merecido apreço às contribuições e progressos alcançados nessa área por intermédio das pesquisas do autor soviético Lev Semenovich Vigotsky.

A abordagem vigotskyana, é conhecida como abordagem histórico-cultural do desenvolvimento humano. Esta vincula o desenvolvimento humano ao contexto cultural no qual o indivíduo se insere e à influência que o ambiente exerce sobre a formação psicológica do homem. Diz uma conhecida estudiosa do autor: “O desenvolvimento cognitivo das crianças é consideravelmente favorecido pelas interações sociais”.

Vigotsky fundamenta que o desenvolvimento está alicerçado sobre o plano das interações. Há uma inter-relação entre o contexto cultural, o homem e o desenvolvimento, pois esse se dá do interpsíquico para o intrapsíquico, ou seja, primeiro se dá o desenvolvimento cognitivo, no relacionamento com o outro, para depois ser internalizado individualmente. Esse processo significa que o desenvolvimento ocorre exteriormente para depois ocorrer efetivamente no interior do indivíduo. Sendo assim, sem influência mútua não há desenvolvimento.

Sua proposta é conhecida também como sócio-interacionista, pois o desenvolvimento histórico acontece do social para o individual. “O ser humano só adquire cultura, linguagem, desenvolve o raciocínio se estiver inserido no meio com os outros. A criança só vai se desenvolver historicamente se inserida no meio social”. (Vigotsky).

Vigotsky fez seus estudos baseando-se no materialismo-histórico-dialético de Marx e Engels que afirmavam que as mudanças históricas sociais ocorridas dentro de uma sociedade, influenciam o comportamento dos indivíduos. Por isso Vigotsky afirma que o homem só se constrói homem nas suas relações sociais, pois é na vivência em sociedade que acontece a transformação do ser biológico para o ser humano. As informações nunca são absorvidas diretamente do meio, mas elas são intermediadas, direta ou indiretamente pelas pessoas que nos cercam, e que são carregadas de significados sociais e históricos. Essas informações intermediadas e re-elaboradas se concretizam numa espécie de linguagem interna, e caracterizará a sua individualidade.

Vigotsky buscou caracterizar os aspectos tipicamente humanos do comportamento e elaborar hipóteses de como estes se formaram ao longo da história humana e de como se desenvolvem durante a vida de um indivíduo. Ao longo do tempo, o homem foi desenvolvendo novos e mais aperfeiçoados instrumentos para melhorar sua condição de vida; e o uso destes têm como principal consequência psicológica provocar interações sociais e consequentemente o desenvolvimento histórico.

Vigotsky enfatiza o aspecto interacionista, pois considera que é no plano intersubjetivo, isto é, na troca de experiências entre as pessoas que têm origem as funções mentais superiores.

Vigotsky caracterizou a chamada zona de desenvolvimento proximal, que é a distância entre o que se pode fazer sozinho e o que se faz com a mediação de outra pessoa, ou de signos. O que novamente valida a importância de conhecer o contexto social no qual o indivíduo está inserido, para entender a maneira como estrutura seu pensamento. Sendo essas medidas essenciais para iniciar e nortear um processo significativo de alfabetização, onde o aluno seja capaz de relacionar aprendizagens anteriores às atuais e não apenas decodificar signos.

Como Jean Piaget, Vigotsky também não acredita no processo simples de estímulo e resposta, pois, o que ele buscava era o conflito entre as concepções idealista e mecanicista na psicologia. Esses modelos de estímulo-resposta, condizentes com o behaviorismo, em sua teoria são substituídos por um ato complexo, mediado por instrumentos psicológicos que podem aumentar a capacidade de atenção e memória, onde o aprendizado impulsiona as estruturas mentais. Observa o desenvolvimento infantil a partir de três aspectos: instrumental, cultural e histórico. Enquanto Piaget dá ênfase no papel estruturante do sujeito, pois considera o desenvolvimento da criança como dependente, sobretudo da interação com objetos, Vigotsky enfatiza as interações entre os indivíduos e os instrumentos criados por estes para se relacionarem com o conhecimento.

Essa discussão sobre as relações que se estabelecem entre o desenvolvimento e a aprendizagem é fundamental para que se entendam, proponham e organizem diretrizes para a aquisição da linguagem escrita, pois subsidiam essa cognição essencialmente fundamentada no ensino e na aprendizagem.

A análise do ponto de vista desses dois autores ajuda a direcionar esta pesquisa sobre o que é aprender e o que é ensinar, considerando que o ser humano não é passivo, não nasce pronto, e interage com o meio e com as pessoas que o cercam.

Fundamentando-se na perspectiva de Jean Piaget e Lev Semenovith Vigotsky, tanto se faz importante à interação com outrem como a interação com objetos para análise na aquisição da linguagem escrita. Consideram-se os dois aspectos levantados pelos autores primordiais para alfabetização. A escrita toma a qualidade de “objeto”, tal qual descrito por Jean Piaget, sendo a “interação” de que torna possível relacionar conhecimentos anteriores, fazer analogias com o concreto e estabelecer vivacidade à erudição.

Implicações do pensamento de Vigotsky para a aprendizagem:

  • A interação social favorece a aprendizagem;
  • As experiências de aprendizagem necessitam estruturar-se de modo a privilegiarem a colaboração, a cooperação e intercâmbio de pontos de vista na busca conjunta do conhecimento;
  • É importante estar atento à zona de desenvolvimento proximal do indivíduo para propor atividades coerentes.