Psicomotricidade Infantil: a Arte de Brincar e Aprender Através do Lúdico

A: a Arte de Brincar e Aprender Através do Lúdico

Resumo: Este artigo tem como objetivo compreender a partir da visão de professores a eficácia do brincar e da psicomotricidade em relação à aprendizagem e ao desenvolvimento psicomotor infantil. Teve como objetivos compreender a psicomotricidade e sua importância no desenvolvimento infantil, entender a relação entre o corpo e a mente através da psicomotricidade, identificar quais as formas lúdicas que contribuem para o desenvolvimento psicomotor, assim como analisar de que forma a ludicidade contribui para a aprendizagem e o desenvolvimento psicomotor infantil. Foram entrevistados quatro professores, formados de 02 a 12 anos no magistério, atuando em uma escola municipal do município de Maravilha no oeste de Santa Catarina. Metodologicamente foi utilizada uma entrevista semiestruturada, formada por questões norteadoras que guiaram a entrevista, mas abriram espaço para a possibilidade de outros pontos serem aprofundados. Sendo a mesma uma pesquisa qualitativa com técnica de análise de conteúdo. Da análise dos relatos das participantes percebeu-se a importância dada pelos profissionais entrevistados a psicomotricidade, assim como sua participação na vida e no desenvolvimento das crianças, e ao mesmo tempo verificou-se a preocupação relacionado a pouca disponibilização de cursos de aperfeiçoamento relacionado ao tema.
Palavras-chaves: Psicomotricidade, Ludicidade,  Aprendizagem, Educação.  

1. Introdução

Há evidência, cada vez maior, da importância do desenvolvimento psicomotor nos processos que envolvem o aprendizado, voltado para a sistematização de certos conteúdos curriculares, mais especificamente os que se relacionam à alfabetização. Estudos atuais conduzem para o interesse crescente pelas práticas psicomotoras em decorrência de sua dupla função, preventiva e terapêutica, levando-se em consideração que, em torno da ação psicomotora, giram as possibilidades de atuação, por meio do corpo, sobre o psiquismo e as funções instrumentais de adaptação ao meio.
Oportunidades anteriores a este estudo, de estar em contato com escolas, despertaram o interesse pelo tema e por investigar a importância do lúdico e da psicomotricidade no contexto escolar. Segundo Fonseca (2004) a psicomotricidade esta presente em todas as atividades que desenvolvem a motricidade das crianças, contribuindo para o conhecimento e domínio do seu próprio corpo. Sendo assim, buscaremos compreender a importância do lúdico no contexto escolar.
Le Boulch (1987) afirma que o trabalho psicomotor com crianças prevê a formação de uma base indispensável tanto em seu desenvolvimento motor quanto psicológico e afetivo, através dessas atividades lúdicas a criança desenvolve suas aptidões perceptivas como meio de ajustamento do comportamento psicomotor.
O tema do presente artigo visa oferecer material para pesquisas futuras que possam surgir a cerca deste tema, assim como colaborar para esclarecer aos profissionais das áreas afins sobre a importância do lúdico e da psicomotricidade no desenvolvimento de crianças nas séries iniciais. Também vem com o intuito de contribuir para incitar a reflexão sobre a educação psicomotora da criança como parte integrante e indispensável ao processo educativo, a fim de promover aos educandos um desenvolvimento psicomotor satisfatório e ao mesmo tempo contribuir para uma evolução psicossocial e o sucesso escolar dos mesmos.

2. Fundamentação Teórica

2.1 Compreendendo a Psicomotricidade

“Dentre tantos que vieram enriquecer a escola em seu processo e construir o novo sujeito para o mundo novo e com um novo paradigma de educação, a psicomotricidade contribuiu com o seu “saber” para melhorar e transformar o homem, até suas mais profundas raízes. Trata-se, portanto de uma educação pelo movimento” (PAROLIN, 2007, p. 142). 
Segundo Galvão (1995) a psicomotricidade, em sua ação educativa, pretende atingir a organização psicomotora da noção do corpo como marco espaço temporal do “eu” (entendido como unidade psicossomática). Esse marco é fundamental ao processo de conduta ou de aprendizagem, pois, busca conhecer o corpo nas suas múltiplas relações: perceptiva, simbólica e conceitual, que constituem um esquema representacional e uma vivência indispensável à integração, à elaboração e à expressão de qualquer ato ou gesto intencional.
Ainda para Galvão (1995) a psicomotricidade pode ser vista como a ciência que estabelece a relação do homem com o meio interno e externo: Psicomotricidade é a ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo.
Está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas. È sustentada por três conhecimentos básicos: o movimento, o intelecto e o cognitivo (GALVÃO, 1995, p. 10).
Para Vayer (1986), a educação psicomotora é uma ação pedagógica e psicológica que utiliza os meios da educação física com o fim de normalizar ou melhorar o comportamento da criança.
Para Alves (2008) a psicomotricidade favorece a aprendizagem quando reconhece que diferentes fatores de ordem física, psíquica e sociocultural atuam em conjunto para que se dê a aprendizagem. Trabalhando no ser humano, cada uma das etapas, possibilitando trabalhar a consciência corporal, a consciência do mundo que o cerca, o relacionamento deste com o seu corpo e com o que está ao seu redor. Proporcionar ao indivíduo a capacidade de ser, ter, aprender a fazer e a fazer, na medida em que se reconhece por inteiro, alcançando a organização e o equilíbrio das relações com os diferentes meios e a sua distinção. Relacionam-se com o mundo de forma equilibrada.
Le Boulch (1987) define Psicomotricidade como uma ciência que estuda as condutas motoras por expressão do amadurecimento e desenvolvimento da totalidade psicofísica do homem, procurando fazer com que os indivíduos descubram o seu corpo através de uma relação do mundo interno com o externo e a sua capacidade de movimento e ação. E dessa forma, permitir tanto ao adulto como à criança expressar as suas ações e movimentos de forma harmoniosa, utilizando o seu corpo.
Segundo Alves (2003) a psicomotricidade envolve toda a ação realizada pelo indivíduo, que represente suas necessidades e permitem a relação com os demais. É a integração psiquismo motricidade. A motricidade é o resultado da ação do sistema nervoso sobre a musculatura, como resposta a estimulação sensorial. O psiquismo seria considerado como o conjunto de sensações, percepções, imagens, pensamentos, afeto, etc. Portanto, a função psicomotora é a unidade onde se integram a incitação, a preparação, a organização temporal, a memória, a motivação, a atenção, etc. O mundo psicomotor surge também na escola onde o aluno busca um espaço para seu corpo, vivendo intensamente cada momento.
A educação psicomotora deve ser considerada uma educação de base na escola primária. Ela acondiciona todos os aprendizados pré-escolares levando a criança a tomar consciência de seu corpo, da lateralidade, a situar-se no espaço, a dominar o seu tempo, adquirir habilmente a coordenação de seus gestos e movimentos. A educação psicomotora deve ser praticada desde tenra idade; conduzida com perseverança permite prevenir inadaptações difíceis de corrigir quando já estruturadas (LE BOUCH, 1986, p. 15).
A educação psicomotora de Le Boulch (1983) justifica sua ação pedagógica colocando em evidência a prevenção das dificuldades pedagógicas, dando importância a uma educação do corpo que busque um desenvolvimento total da pessoa, tendo como principal papel na escola preparar seus educandos para a vida. Utiliza métodos pedagógicos renovados, procurando ajudar a criança a se desenvolver da melhor maneira possível, contribuindo dessa forma para uma boa formação da vida social dos educandos. Para atingir esse objetivo, a educação psicomotora procura trabalhar como foi descrito acima, na prevenção de problemas de dificuldades escolares de várias origens, como: afetividade, leitura e escrita, atenção, lateralidade e dominância lateral, matemática e funções cognitivas, socialização e trabalho em grupo.   
A educação psicomotora no ensino fundamental segundo ele tem três objetivos principais que são:
  • Enfatizar a aquisição de certo número de conhecimentos e de habilidades, através de uma transmissão cultural;
  • Manter e desenvolver as possibilidades de descoberta, criação e imaginação da criança;
  • Trabalhar no modo de aquisição, desenvolvendo as possibilidades funcionais da criança tanto no plano físico como no intelectual.
A partir desses três objetivos, há uma busca no desenvolvimento psicoafetivo, funcional metódico, e aquisições instrumentais e de conhecimentos. Onde no primeiro são trabalhados os jogos e expressões motoras espontâneas, e atividades artísticas, no segundo, a educação psicomotora metódica utiliza atividades despertadoras; e no último é trabalhado a escrita, leitura, cálculo e matemática, habilidades motoras utilizadas nos esportes e o conjunto dos conhecimentos escolares.    
De acordo com Gonçalves (2011) a Psicomotricidade tem o objetivo de enxergar o ser humano em sua totalidade, nunca separando o corpo (sinestésico), o sujeito (relacional) e a afetividade. Sendo assim, ela busca, por meio da ação motora, estabelecer o equilíbrio desse ser, dando lhe possibilidades de encontrar seu espaço e de se identificar com o meio do qual faz parte. 

2.2 O corpo e a Mente      

Segundo Assunção e Coelho (1997) a psicomotricidade é a “educação do movimento com atuação sobre o intelecto, numa relação entre pensamento e ação, englobando funções neurofisiológicas e psíquicas”. Além disso, possui uma dupla finalidade: “assegurar o desenvolvimento funcional, tendo em conta as possibilidades da criança, e ajudar sua afetividade a se expandir e equilibrar-se, através do intercâmbio com o ambiente humano”.
Assunção e Coelho (1997) ainda trazem que a psicomotricidade integra várias técnicas com as quais se pode trabalhar o corpo (todas as suas partes), relacionando-o com a afetividade, o pensamento e o nível de inteligência. Ela enfoca a unidade da educação dos movimentos, ao mesmo tempo que põe em jogo as funções intelectuais. As primeiras evidências de um desenvolvimento mental normal são manifestações puramente motoras. Diante desta visão, as atividades motoras desempenham na vida da criança um papel importantíssimo, em muitas das suas primeiras iniciativas intelectuais. Enquanto explora o mundo que a rodeia com todos os órgãos dos sentidos, ela percebe também os meios como quais fará grande parte dos seus contatos sociais. A psicomotricidade precisa ser vista com bons olhos pelo profissional da educação, pois ela vem auxiliar o desenvolvimento motor e intelectual do aluno, sendo que o corpo e a mente são elementos integrados da sua formação.
Todas as experiências da criança (o prazer, a dor, o sucesso ou fracasso) são sempre vividos corporalmente. Se acrescentarmos valores sociais que o meio dá ao corpo e as cerção de suas partes, este corpo termina por ser investido de significações, de sentimentos e de valores muito particulares e absolutamente pessoais.” (VAYER, 1984, p.89).
Segundo Fonseca (1988) é na Educação Infantil e nas Séries Iniciais, que a criança busca experiências em seu próprio corpo, formando conceitos e organizando o esquema corporal. A abordagem da Psicomotricidade irá permitir a compreensão da forma como a criança toma consciência do seu corpo e das possibilidades de se expressar por meio desse corpo, localizando-se no tempo e no espaço. O movimento humano é construído em função de um objetivo. A partir de uma intenção como expressividade íntima, o movimento transforma-se em comportamento significante. É necessário que toda criança passe por todas as etapas em seu desenvolvimento.       Conforme Araújo (1999) a imagem do corpo representa uma forma de equilíbrio que, como núcleo central da personalidade, se organiza em um contexto de relações mútuas do organismo e do meio. Portanto, a educação psicomotora na idade escolar deve ser antes de tudo uma experiência ativa, onde a criança se confronta com o meio.

2.3 A importância da psicomotricidade e da ludicidade

Conforme Santos (2009) durante muito tempo e ainda hoje, prevalece a indiferença, de muitos ao ambiente escolar, pelo uso do lúdico no ensino das crianças. O brincar era e é tratado como uma atividade não séria que não se enquadra nos padrões de ensino, já que, o mesmo autor ainda traz que a escola prioriza a disciplina e o silêncio, assim como criança precisa ser obediente ao professor, passiva e imóvel em sala de aula, para que não haja bagunça. Isso contraria os objetivos que muitos educadores pregam em que se valoriza a criança como um ser ativo.  
De acordo com Oliveira (2008) ao brincar, afeto, motricidade, linguagem, percepção, representação, memória e outras funções cognitivas estão profundamente interligados. A brincadeira favorece o equilíbrio afetivo da criança e contribui para a apropriação dos signos sociais.
Segundo Luckesi (2000) o lúdico tem sua origem na palavra latina “ludus” que quer dizer “jogo”. Se se achasse confinado a sua origem, o termo lúdico estaria se referindo apenas ao jogar, ao brincar, ao movimento espontâneo.
Como bem observa Fortuna (2001), em uma sala de aula ludicamente inspirada, convive-se com a aleatoriedade, com o imponderável, o professor renuncia à centralização, à onisciência e ao controle onipotente e reconhece a importância de que o aluno tenha uma postura ativa nas situações de ensino, sendo sujeito de sua aprendizagem, a espontaneidade e a criatividade são constantemente estimuladas.     Ainda de acordo com Fortuna (2001) uma proposta lúdica educativa torna-se um desafio à prática do professor, pois além de selecionar, preparar, planejar e aplicar os jogos precisa participar no decorrer do jogo, se necessário jogar, brincar com as crianças, mas sempre observando, no desenrolar, as interações e trocas de saberes entre eles, “brincar e aprender ensinam ao professor, por meio de sua ação, observação e reflexão, incessantemente renovadas, como e o que o aluno conhece”.
Ainda, segundo Dohme (2005), além de o jogo ser uma atividade interessante, ela transmite conteúdos na qual:
(…) podem colaborar na formação do indivíduo de forma ampla, proporcionando o desenvolvimento em outros aspectos, como físico, intelectual, social, afetivo, ético, artístico. Este desenvolvimento pode ser obtido através de situações comuns decorrentes da aplicação de jogos como o exercício da vivência em equipe, da criatividade, imaginação, oportunidades de autoconhecimento, de descobertas de potencialidade, formação da auto-estima e exercícios de relacionamento social.
Le Bouch (1987) ressalta que “é partindo de um desenvolvimento funcional metódico que facilitaremos as aprendizagens específicas”. Neste desenvolvimento funcional, a educação psicomotora desempenha um papel central já que ela termina no ingresso a uma imagem do corpo operatório, condição da disponibilidade pessoal em relação ao meio material e humano. Ressalta ainda, que a educação psicomotora nas escolas deveria desenvolver nas crianças, uma postura correta frente à aprendizagem de caráter preventivo do desenvolvimento integral do indivíduo, frente a várias etapas de crescimento.

3. Método

Aliadas aos métodos estão as técnicas de pesquisas, instrumentos específicos que ajudam no alcance dos objetivos almejados. Para a realização deste estudo utilizou-se como instrumento uma entrevista semiestruturada que é formada por questões norteadoras que guiaram a entrevista e possibilitam que alguns pontos sejam aprofundados.  Sendo a mesma uma pesquisa qualitativa, na modalidade de pesquisa de campo com técnica de análise de conteúdo pelo método de Bardin (1977).
Foram entrevistados quatro professores de ambos os gêneros, atuantes no ensino fundamental, anos iniciais da rede municipal de ensino da cidade de Maravilha/SC, que se dispuseram a falar sobre o tema, sendo um professor do 1º ano, um do 2º ano, um professor de Artes e um de Educação Física. Os participantes da pesquisa possuem tempo de serviço entre 02 a 12 anos.     
Para garantir a confiabilidade e anonimato das informações disponibilizadas pelos participantes, foi assinado o termo de consentimento livre e esclarecido. A entrevista foi gravada, transcrita e posteriormente analisada a partir da fundamentação teórica.     
A análise de conteúdo passa por três fases: pré-análise (organização e sistematização das ideias iniciais que guiará as operações seguintes); exploração do material (é uma fase que, tendo as operações da pré-análise sido desenvolvidas de forma correta, decorre quase que mecanicamente, na qual se codificam os dados); e tratamento dos resultados, inferência e interpretação “os resultados brutos são tratados de maneira a serem significativos e válidos” (BARDIN, 1977, p. 101).

4. Discussão dos Resultados                 

Na sequência encontra-se uma breve apresentação dos participantes deste estudo:
A1: Professora de Educação Física da creche e anos iniciais, 23 anos, formada há dois anos, atuando na escola há um ano e cinco meses.
A2: Professora de artes dos anos iniciais e ensino médio, 34 anos, formada há oito anos, atuando na escola há três anos e oito meses.
A3: Professora do 2º ano das séries iniciais, 32 anos, formada há doze anos, atuando na escola há seis anos e dez meses.
A4: Professora do 1º ano das séries iniciais, 29 anos, formada há oito anos, atuando na escola há cinco e dois meses.
A análise de conteúdo dos assuntos abordados ao longo das entrevistas revelou quatro categorias temáticas, que serão discutidas a seguir.

4.1 A importância da psicomotricidade

A psicomotricidade atua no desenvolvimento global da criança, ajuda a conhecer seu corpo, a relação entre suas partes, a conhecer, a valorizar, e a respeitar o seu corpo e também o corpo do colega. Ao abordar o tema a importância da psicomotricidade, junto ao participante A1 tem-se o seguinte relato:
A1: […] por que quando eles estão fazendo um movimento, eles estão em contato com o colega, então eles demonstram se eles estão alegres, se eles estão nervosos, eles demonstram ali o seu mental, o seu psicológico, às vezes eles, lá fora passaram por um problema antes de vir pra escola, às vezes lá na hora do jogo, lá na hora do contato físico lá eles vão demonstrar o seu afetivo, seu emocional.  
Assim, a partir da fala da entrevistada, pode-se perceber que a criança expressa através do movimento os sentimentos e emoções que estão presentes naquele momento. Por meio das citações abaixo e entre várias outras, percebeu-se por meio dos relatos dos entrevistados que os jogos e as brincadeiras devem e precisam ocupar um lugar de destaque nas escolas desde a Educação Infantil.
A1: É muito importante por que é a partir dali que a criança começa tudo né. Ela tem que aprender tanto seus aspectos motores, físicos, mental, psicológico, então é ali que começa, na base, então seria indispensável aprender a psicomotricidade nessa fase.
A2: É muito importante, pois desperta no aluno a vontade de criar, se demonstrar sentimentos, e acima de tudo auxilia na formação corporal e psicológica da criança. 
A educação psicomotora é uma técnica, que através de exercícios e jogos adequados a cada faixa etária leva a criança ao desenvolvimento global de ser. Devendo estimular, de tal forma, toda uma atitude relacionada ao corpo, respeitando as diferenças individuais (o ser é único, diferenciado e especial) e levando a autonomia do indivíduo como lugar de percepção, expressão e criação em todo seu potencial. (NEGRINE, 1995, p. 15).   
A3: É fundamental na formação e estruturação do esquema corporal e incentiva a pratica dos movimentos na vida de uma criança […].
“O indivíduo não é feito de uma só vez, mas se constrói, através da interação com o meio e de suas próprias realizações” (FONSECA, 2004, p.19). Diante desta visão, podemos entender que a psicomotricidade desempenha papel fundamental, pois o movimento é um suporte que ajuda a criança a adquirir o conhecimento de mundo que a rodeia através de seu corpo, de suas percepções e sensações.

4.2 Formas de incluir a psicomotricidade das atividades escolares.

De acordo com Assunção e Coelho (1997) a psicomotricidade contribui de maneira expressiva para a formação e estruturação do esquema corporal e tem como objetivo principal incentivar a prática do movimento em todas as etapas da vida de uma criança. Por meio das atividades, as crianças, além de se divertirem, criam, interpretam e se relacionam com o mundo em que vivem.
As principais atividades relatadas pelos entrevistados foram: esquema corporal, lateralidade, organização espacial, estruturação temporal, brincadeiras lúdicas, desenhos, pinturas, etc. Conforme seguem os relatos:
A1: […] “meu” tem tantas. Tem a coordenação, lateralidade. Passar no bambolê, pé direito, pé esquerdo, equilíbrio, passar pela corda, encima de uma corda, entre outras.
A3: […] através das atividades as crianças se divertem, criam, interpretam e se relacionam com o mundo em que vivem através do desenvolvimento motor, afetivo e psicológico.
A4: […] nos jogos, brincadeiras, músicas, cantigas de roda, teatro com mímicas.
Segundo Morais (2002) quando a lateralidade de uma criança não está bem estabelecida, a mesma demonstra problemas de ordem espacial, não percebe a diferença entre seu lado dominante e o outro, não aprende a utilizar corretamente os termos direita e esquerda, apresenta dificuldade em seguir a direção gráfica da leitura e da escrita, não consegue reconhecer a ordem em um quadro, entre outros transtornos.   
Podemos perceber por meio dos relatos subsequentes, a importância de se trabalhar a literalidade nas crianças e a relação da mesma com o seu desempenho e aprendizagem em sala de aula.
A1: […] quem já tem um equilíbrio, uma lateralidade bem desenvolvida eles fazem qualquer atividade sem dificuldade, e quem não tem esses aspectos bem definidos ainda, eles tem bastante dificuldade, até na sala de aula da pra ver a dificuldade que eles têm se eles não têm essas coordenações definidas.
A2: Eles criam mais, se soltam mais nas atividades, tem maior coordenação na hora de fazer um desenho e/ou também uma pintura. Tudo muda quando a psicomotricidade está presente no plano do professor.
Por tanto, percebeu-se por meio das respostas dos participantes que os jogos e as brincadeiras devem e precisam ocupar um lugar de destaque nas escolas desde a Educação Infantil.

4.3 Aprendendo através da ludicidade

Segundo Luckesi (1994), a atividade lúdica ajuda a desenvolver a capacidade criativa da criança, atuando como uma atividade orgânica e ao mesmo tempo prazerosa para a criança, já que a brincadeira proporciona uma melhor qualidade da vida escolar. Auxiliando na auto realização e ao mesmo tempo na interação com o grupo social que a cerca. Para ele, a prática de brincadeiras é um dos mais eficazes instrumentos que permitem a interação do interior da criança com o mundo exterior. Por isso, ao estudar a importância das atividades lúdicas enquanto contribuição da psicomotricidade para o processo de ensino-aprendizagem destaca-se a relevância desta pratica para a criança, tornando-a um ser mais harmônico com o meio social.
Em relação à importância da ludicidade a entrevistada A1 fez a seguinte afirmação:
A1: Eu incluo e até as minhas abordagens são voltadas nessas estratégias, através de atividades recreativas e lúdicas, pois eu acredito que a criança brincando é que vai aprender, vai aprender com mais facilidade.
A brincadeira é uma necessidade para a criança, que favorece a passagem do período sensório-motor ao lógico concreto. Por meio da brincadeira a criança começa de forma gradativa a operar mentalmente, formando categorias conceituais e relações lógicas, a partir dos símbolos e representações individuais (BARRETO, 2000).
A3: Nos trabalhos do cotidiano escolar, desenvolvo jogos e brincadeiras dinamizando como atividades lúdicas em sala de aula.
Vygotski (1988) discute o papel do brinquedo, referindo-se especialmente à brincadeira como “faz-de-conta”, como brincar de casinha, escolinha, brincar com um cabo de vassoura como se fosse um cavalo. O comportamento das crianças pequenas é fortemente determinado pelas características das situações concretas em que elas se encontram. Numa situação imaginaria como a da brincadeira de “faz-de-conta”, a criança é levada a agir num mundo imaginário onde a situação é definida pelo significado estabelecido pela brincadeira e não pelos elementos reais concretamente presentes.
A brincadeira se constitui em um exemplo de atividade no qual a criança poderia ser vista como se estivesse num mundo só seu. Conforme Lopes (2001), “o jogo e o exercício é a preparação para a vida adulta, a criança aprende brincando e é o exercício que a faz desenvolver suas potencialidades”.
Segundo Oliveira (2000) o brincar não significa apenas recrear, é muito mais, caracterizando-se como uma das formas mais complexas que a criança tem de comunicar-se consigo mesma e com o mundo, ou seja, o desenvolvimento acontece através de trocas recíprocas que se estabelecem durante toda sua vida. Assim, através do brincar a criança pode desenvolver capacidades importantes como a atenção, a memória, a imitação, a imaginação, ainda propiciando à criança o desenvolvimento de áreas da personalidade como afetividade, motricidade, inteligência, sociabilidade e criatividade.
A3: Percebo que através das atividades desenvolvidas a criança toma consciência do se corpo e de expressar-se através dele, localizando-se no tempo e espaço.
Destaca-se também a importância do educador na realização dessas atividades:
A4: […] o professor tem o papel de atuar como medidor das crianças facilitando vários momentos de ludicidade no grupo onde ela está inserida, construindo assim a sua identidade.
A2: […] mas é o professor que planeja atividades que contemplam observação, jogos, brincadeiras, passeios, desenhos, teatros, mímicos e outras atividades que enriquecem o desenvolvimento psicomotor e intelectual das crianças.
Segundo Santos (2002, p 37) a atividade lúdica, o jogo, o brinquedo, a brincadeira, precisam ser melhorado, compreendidos e encontrar maior espaço para ser entendido como educação. Na medida em que os professores compreenderem toda sua capacidade potencial de contribuir no desenvolvimento infantil, grandes mudanças irão acontecer na educação e nos sujeitos que estão inseridos nesse processo.
Para Winnicott (1966), a brincadeira permite a associação livre de ideias, pensamentos, impulsos, sensações sem conexão aparente e emersão de ideias. Para ele, com base no brincar, se desenvolve a comunicação e se constrói a totalidade da existência experiencial do homem.
Compreende-se assim através dos relatos que a coordenação psicomotora e a ludicidade são fatores ou elementos que estão diretamente ligadas à expressão do corpo, porque todo movimento tem uma conotação psicológica de sensações. Através do brincar podem ser expressos sentimentos, assim como um estado emocional pode ser percebido através dos gestos da criança.

4.4  A psicomotricidade no plano de ensino escolar.

Por acreditar que a psicomotricidade auxilia e capacita o aluno para uma melhor assimilação das aprendizagens escolares, se fez necessário aproveitar deste recurso. Considerando que um bom desenvolvimento psicomotor proporciona ao aluno algumas das capacidades básicas para obter bom desempenho escolar, a psicomotricidade se utiliza o movimento para atingir outras aquisições mais elaboradas, como intelectuais.(OLIVEIRA, 1997).
Durante o processo das entrevistas com os participantes, pode-se perceber através dos relatos que existe pouca oferta de cursos que capacitem e que orientem especificadamente sobre a psicomotricidade, pelo menos que seja do conhecimento dos participantes deste estudo.
A2: Bom. Bem sincera, não temos no planejamento em sim a palavra propriamente dita “psicomotricidade” o que temos são atividades lúdicas, isso sim. Mas também é cada professor quem cria sua aula, mas pelo que conheço no plano da rede pouco se fala em atividades de psicomotricidade, é mais lúdica mesmo. […] então vai da criatividade do professor em se ater a essa parte e inclui-la no seu plano.
A1: […] na escola assim especifico não tem tema que são conversados com os alunos mais é o que o professor de educação física trabalha nas aulas.
Percebe-se também que é durante a graduação destes professores, que se destaca bastante o assunto com os acadêmicos.
A3: Na graduação, pós-graduação, foi enfatizado muito a importância da psicomotricidade e de deixar as crianças brincarem.
A2: Na graduação sim, tive muito.
A1: Na minha graduação eu tive uma disciplina especifica, e tudo na verdade que nós trabalhamos na faculdade é voltado a psicomotricidade, quando se fala em criança né […].
Entende-se através dos relatos obtidos que conteúdos relacionados a psicomotricidade, assim como a ludicidade estão presentes no momento da graduação, porém, nem sempre são contemplados na prática pedagógica diária. Segundo relatos dos entrevistados, na graduação eles possuem disciplinas especificas com ênfase no assunto ludicidade e brincadeiras, porém com a falta de cursos específicos na área após a formação, as atividades se tornam monotonas e repetitivas, o que no momento da prática torna necessária e indispensável sua revitalização constante por meio de cursos de aperfeiçoamento.

5. Considerações Finais

Enfatizando a importância da psicomotricidade e da ludicidade na vida escolar, percebeu-se que uma criança que não conhece a si mesmo e que não descobriu o mundo que a cerca poderá não conseguir também relacionar a sua educação escolar com a realidade cotidiana.  
A partir de pesquisas bibliográficas e entrevistas realizadas com educadores, chega-se a conclusão que a psicomotricidade é um elemento fundamental para ser trabalhado desde os primeiros anos de vida da criança, e que a mesma está presente nas escolas, mas que não possui o grande destaque que deveria, assim como não está sendo devidamente estimulada pela escola aos educadores e dos educadores aos alunos.       
A partir dos relatos obtidos entende-se que propor atividades que instiguem a todos ao movimento corporal no processo de aprendizagem, poderá além de instrumentalizar os educandos, também auxiliar o profissional da educação a ter ainda mais consciência sobre o assunto psicomotricidade e sua importância no âmbito escolar.    
Acredita-se a partir dos relatos desta pesquisa e das leituras feitas a cerca do assunto, que muitos dos problemas ou dificuldades de aprendizagem podem ser decorrentes de questões de psicomotricidade, assim, supõe-se a partir deste estudo que se esse conteúdo for trabalhado, estimulado e altamente priorizado na educação, muitos dos problemas de alfabetização nas séries iniciais seriam amenizados. Mas para isso é necessário incentivo mediante cursos de formação profissionalizantes, bem como, disponibilidade e dedicação por parte do professor.    
Há evidências a partir deste estudo de que crianças trabalhadas em seu esquema e imagem corporal, lateralidade, entre outras, apresentam melhoras e diferenças significativas no seu desenvolvimento e aprendizado escolar.Quanto à questão ludicidade levantada nas entrevistas, percebe-se através dos relatos, que a mesma contribui para a aprendizagem da criança, assim como possibilita ao educador tornar suas aulas mais dinâmicas e prazerosas. A criança aprende através da atividade lúdica e através do brincar, ela se relaciona. Autores citados no referencial teórico deste estudo trazem a tona a influencia do brinquedo no desenvolvimento da criança, assim entende-se que é no brinquedo que ela aprende a agir numa esfera cognitiva, ao invés de numa esfera visual externa, dependendo das motivações.
No momento em que a criança brinca, ela cria, ela vive aquele momento. Assim como foi ressaltado em entrevista, a criança traz no momento dos jogos, do brincar, situações pessoais, assim como seus sentimentos. Então acredita-se que a psicomotricidade e a ludicidade estão interligadas ao desenvolvimento tanto corporal quando emocional da criança, sendo ambas indispensáveis no processo de aprendizagem. Sendo assim, evidencia-se a necessidade de haver mais pesquisas sobre o assunto, por ser um tema amplo e de grande importância na aprendizagem e desenvolvimento das crianças.