Prefeito diz que Ribeiro mencionou ‘eliminar a corrupção’ pouco antes de pastor aliado pedir propina

Prefeito goiano relatou que ministro não queria ‘intermediários’, mas que levou pastores a reunião do MEC. Após reunião, segundo ele, pastor pediu R$ 15 mil para liberar verba.

O prefeito de Bonfinópolis (GO), Kelton Ribeiro (Cidadania), afirmou nesta terça-feira (5) que, em uma reunião, o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro pediu para gestores municipais evitarem “intermediários” e “golpistas” nas relações com a pasta.

O ex-ministro teria dito que isso era para “eliminarmos a corrupção”. Pouco depois, segundo o prefeito, em um almoço, o pastor Arilton Moura, que participava da reunião, fez pedido de propina para facilitar liberação de verbas do ministério.

Arilton Moura e o também pastor Gilmar Santos estão no centro das denúncias de pedidos de propina dentro do MEC. Em áudio que detonou uma crise na pasta, Milton Ribeiro chegou a dizer que repassava recursos para municípios indicados pelos pastores. E que fazia isso a pedido do presidente Jair Bolsonaro.

Kelton Ribeiro deu a declaração em uma audiência na Comissão de Educação no Senado. Ele e outros quatros prefeitos foram convidados a prestar depoimento sobre as denúncias envolvendo a influência dos pastores Arilton Moura e Gilmar Santos na agenda e nos recursos do ministério.


Segundo o prefeito, Milton Ribeiro disse ao prefeitos em um encontro em março de 2021: ” ‘Essa reunião está acontecendo para apresentar a todos vocês, prefeitos, secretários de educação, a estrutura do MEC. Então, não utilizem de lobistas, de intermediários, pois este governo tem combatido incisivamente a corrupção e nós não queremos que esse tipo de atitude ocorra. É uma recomendação do presidente [Jair Bolsonaro] eliminarmos a corrupção’ ”, relatou o prefeito de Bonfinópolis.

Só que no almoço, em seguida, o pastor com influência no MEC pediu propina de R$ 15 mil, de acordo com Kelton Ribeiro. Segundo ele, Milton já não estava nesse momento.

“Foi quando veio o pastor Arilton e me abordou de forma abrupta e direta: ‘Vi o seu ofício para uma escola de 12 salas. Essa escola deve custar uns R$ 7 milhões. Mas é o seguinte, eu preciso de R$ 15 mil na minha mão hoje, você faz uma transferência para a minha conta, porque esse negócio de para depois não cola comigo, porque vocês políticos são malandros, não têm palavra. Se não pagar antes, depois não paga ninguém”, relatou o prefeito, que diz ter saído do restaurante logo em seguida.

Kelton Ribeiro já havia relatado pedido de propina dos pastores quando surgiram as suspeitas de corrupção na pasta, no mês passado. Nesta terça, no Senado, ele confirmou as denúncias e apresentou alguns detalhes, como a fala de Milton pouco antes do pedido de propina dos pastores. Outros dois prefeitos também reiteraram relatos de pedido de propina.

Milton tem negado irregularidades no MEC. Apesar do áudio, ele também nega que Bolsonaro tenha pedido que ele favorecesse os pastores.

Ainda segundo o prefeito de Bonfinópolis, o encontro no MEC, em março do ano passado, foi intermediado pelos dois pastores.

A reunião, relatou Kelton Ribeiro, ocorreu em um auditório no ministério. Na tribuna, estavam o ministro Milton Ribeiro, o presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) Marcelo Lopes da Ponte, técnicos do ministério e os pastores.

Segundo o prefeito, cerca de dez dias antes da reunião em Brasília, ele foi abordado por uma pessoa desconhecida que dizia que o pastor Gilmar Santos queria conhecê-lo e propôs um encontro na sede de uma igreja.

O prefeito destacou que o encontro aconteceu também em março do ano passado, em Goiânia, e teve a participação do pastor Arilton. Na ocasião, contou, Arilton afirmou que tinha um “canal interessante” em Brasília e que o então ministro Milton Ribeiro era “nosso irmão de fé”.

Kelton Ribeiro afirmou ainda que Arilton, na sequência, pediu uma “contribuição” para a igreja por meio da compra de mil bíblias, cada uma no valor de R$ 50. O prefeito disse que negou comprar o material e, dez dias depois, participou da reunião no Ministério da Educação.

Encontros com autoridades
Os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura são personagens com trânsito em gabinetes de altas autoridades em Brasília.

Em 2019, primeiro ano do mandato, estiveram com o presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto. Primeiro, em abril, Gilmar Santos foi fotografado ao lado do presidente em uma solenidade .

Em outubro daquele ano, também no palácio, os dois participaram de um evento em que o presidente estava presente e, de acordo com registros oficiais do governo, entregaram a Bolsonaro um livro produzido pela Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil Cristo Para Todos (Conimadb).

Em sua conta em uma rede social, Conimadb mostra outro encontro dos dois pastores com Bolsonaro, dessa vez em fevereiro do ano passado.