O jeito certo de disciplinar

O jeito certo de disciplinar. Nem rigidez nem permissividade. Segundo especialista, a solução é o equilíbrio.
FERNANDA LEE: Mestre em Psicologia Escolar pela Universidade Nazarena de Point Loma, nos Estados Unidos, ministra cursos sobre disciplina positiva para pais e professores no Brasil e nos EUA (Foto: Mariana Pekin)

Um mundo sem punições é um mundo em que as ações não têm consequências?

Fonte: Nova Escola
FERNANDA – Existe uma diferença entre punição e consequência lógica. E elas são sempre confundidas. Quando um estudante risca a mesa, é comum deixá-lo sem recreio. O que isso tem a ver com o que ele fez? Nada. Trata-se apenas de uma punição. A consequência lógica deve atender a três princípios: ser relacionada (seria justo que ele limpasse a própria mesa), razoável (limpar a mesa de todos os colegas não faria sentido) e, se possível, antecipada (o aluno pensa no que fazer para resistir à vontade de riscar a mesa).

O que molda essa mentalidade?
É o conceito de disciplina positiva, criado pela pesquisadora e psicóloga americana Jane Nelsen. Normalmente, disciplinamos as crianças de maneira rígida ou permissiva. Quando os professores são muito rígidos, acabam sendo autoritários e o aluno sente que teve sua dignidade roubada. Quando são permissivos, deixam que tudo aconteça para não afetar a autoestima da turma. Nelsen propõe que o docente seja firme, mas também gentil para manter a dignidade da criança.

Por que agir assim, se no passado a rigidez parecia funcionar?

A mudança de gerações transformou as relações de poder tanto entre adultos (no trabalho e na família) como entre adultos, crianças e jovens. A garotada hoje quer direito a igualdade, quer ser ouvida. O professor tende a acreditar que, no momento que ele deixa o aluno decidir, está perdendo poder. Isso é um equívoco. O adulto ainda é o capitão do barco, mas, ao se mostrar disposto a ouvir e considerar também os estudantes, deixa que todos ajudem a remar.

E se o aluno não estiver disposto a cooperar?

As crianças observam os adultos a todo o momento e, às vezes, os desafiam. Se o docente usa uma bronca para exigir bom comportamento, o aluno pode recuar por se sentir acuado e com medo. A alternativa é validar o sentimento da criança. O professor diz: “Eu entendo que você quer brincar, mas sua turma quer estudar agora. O que podemos fazer para todo mundo se sentir bem?”. Com isso, o aluno pensa: “Poxa, ele me viu. Me escutou”. Tudo o que a criança sente é válido, ainda que nem tudo o que ela faça seja.

Como agir quando as famílias são permissivas ou rígidas demais?

A escola não deve ser dependente da família para adotar as práticas da disciplina positiva. As crianças são capazes de perceber a diferença entre o ambiente familiar e o escolar. Um exemplo interessante são crianças que têm dois pares de avós e na casa de um é liberado comer doce, mas na do outro não. Elas não confundem as regras, sabem como agir em ambos ambientes. Ainda assim, é essencial informar as famílias sobre a postura adotada. Vale fazer uma reunião, explicar a proposta e se dispor a dar mais detalhes.
Fonte: Nova Escola