O que o professor precisa fazer depois do conselho de classe

Todo semestre é aquela correria para fechar notas, faltas e registros antes do conselho de classe. No dia da reunião, todo mundo se concentra, apresenta suas conclusões, reflete sobre o que já foi desenvolvido até ali e… Pode parecer que o sufoco passou, mas o trabalho está apenas começando. Empenhe-se para agir sobre cada aspecto que foi diagnosticado neste importante processo avaliativo e levar o que foi discutido para a prática. 
O que o professor precisa fazer depois do conselho de classe
O que o professor precisa fazer depois do conselho de classe – FONTE: NOVAESCOLA

“É necessário retomar os pontos trazidos como problemáticos e trabalhá-los diariamente. Não se pode deixar ser engolido pelo fluxo cotidiano e ignorar as dificuldades que permeiam a aprendizagem”, diz Ana Cristina Gazotto, coordenadora pedagógica e formadora do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (Pnaic). Algumas ações e perspectivas podem guiar o professor para seguir o ano letivo de maneira assertiva. Confira, a seguir, algumas sugestões. 
O conselho de classe é uma experiência formativa. Um docente pode dominar completamente o conteúdo de sua disciplina e ter uma formação exemplar, no entanto, a sala é heterogênea e cada aluno aprende de uma forma diferente. “Ele precisa ter sensibilidade e estudar didática. Com a tecnologia, as informações estão por toda parte e a turma está conectada na internet o tempo todo”, aponta Ângela Dalben, professora e pesquisadora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e autora do livro Conselhos de Classe e Avaliação: Perspectivas na Gestão Pedagógica da Escola (esgotado). “A metodologia deve construir integrações em sala de aula, assim como se tem no celular, por exemplo. Temos de criar redes reais com linhas de raciocínio e ter consciência de que o resultado do estudante também tem a ver com o do educador”.

O aluno não consegue identificar sozinho o que precisa mudar. E indicar que a criança não é boazinha, não faz lição ou não participa das atividades propostas não é suficiente. Uma conversa franca entre professor e aluno deve enfocar o que está acontecendo. Por que ele não consegue se envolver com a disciplina? As propostas estão difíceis demais? Ele consegue compreender o que as atividades solicitam? O que mais desperta a curiosidade dele? Para Ana Cristina, as ações precisam ser construídas independente do comportamento da sala, que não pode ser uma desculpa para melhorar a prática.

Pensar como equipe faz toda a diferença. Ângela indica que em escolas muito rígidas, existe uma tendência do professor “esconder” o que faz em sala de aula. “Então, ele vai tendo resultados ruins e nem quer discuti-los ou mesmo dividi-los. Alguém que não quer construir junto e nem pensar em como melhorar o resultado, acaba parado no tempo”, aponta. Ana Cristina complementa que, com o tempo apertado, é difícil o docente conseguir ampliar repertório, estudar, buscar alternativas. “Por isso é tão importante contar com a ajuda dos colegas. Sem eles, não tem como avançar”, comenta.

Compartilhar com o coordenador pedagógico o planejamento e as dúvidas sobre o que é preciso ser aprimorado e como fazê-lo é um passo para a mudança. “Quando o docente entende que o coordenador é parceiro e não está contra ele, o ganho é enorme. É preciso ser receptivo a novas e boas ideias”, explica Ana Cristina.

“O segredo está em replanejar, reavaliar e aplicar de acordo com a necessidade do aluno. Na hora que o professor coloca em prática sua inovação pedagógica, a aprendizagem é maior”, diz Valter Pereira de Menezes, professor de Ciências na Escola Municipal Luiz Gonzaga, em Parintins (AM), e educador nota 10 de 2015. Escute o depoimento completo do professor no player abaixo.

Então, ao planejar as situações de ensino, converse sobre os pontos discutidos no conselhocom outros docentes e com o coordenador pedagógico. Vale refletir se o seu planejamento:
– Inclui a sondagem do que eles já sabem efetivamente sobre o conteúdo;
– Considera as referências e o repertório que as crianças ou os adolescentes têm sobre o tema;
– Contempla o que os alunos precisam aprender e as didáticas que se encaixam melhor para cada turma;
– Abrange atividades específicas para os alunos com mais dificuldade; 
– Retoma e estabelece relações com outros assuntos já trabalhados;
– Promove desafios graduais de acordo com a trajetória e o desenvolvimento do estudante;
– Diversifica trabalhos e formas de apresentar o conteúdo;
– Seleciona materiais para as aulas que estão de acordo com o propósito das situações de ensino propostas;
– Leva em conta tarefas de casa para reforçar o que foi apresentado em sala ou para introduzir temáticas que serão apresentadas nas aulas seguintes;
– Envolve devolutivas regulares sobre as produções dos educandos;
– Promove interação e parceria entre os alunos com o objetivo de trazer situações de apoio para a realização das atividades.

Registro e reflexão sempre
Com as mudanças implementadas, não espere a próxima reunião do conselho para voltar a analisar os resultados. Um parceiro interessante para continuar avaliando se o caminho escolhido está funcionando é o portfólio. Esse instrumento permite analisar com maior cuidado as situações de ensino e as propostas do último bimestre e, assim, refletir sobre a natureza das dificuldades apresentadas pela sala e quais ações tiveram bons resultados. “Olhar para essa produção é olhar para o caminhar da criança com a possibilidade de investigar seu percurso”, coloca Ana Cristina.

A classe também é aliada no aprimoramento das práticas. Avalie com ela as metodologias utilizadas para apresentar os conteúdos, as atividades propostas, o ritmo da aula, as mudanças que as crianças gostariam de ver. “Precisamos trazê-los para participar, convidá-los a dialogar, dar ideias e isso não precisa ser um projeto. É algo a ser desenvolvido no dia a dia”, observa Ângela. 

Por fim, continue se abrindo e compartilhando as dificuldades. Apresentar regularmente os problemas que aparecem em sala durante as reuniões de horário de trabalho pedagógico-coletivo pode ajudar a aprimorar a didática e produzir resultados mais efetivos.
Fonte: NOVAESCOLA – Escrito por: Laís Semis