Letramento na Educação Infantil: cuidar e/ou educar

Letramento na Educação Infantil: cuidar e/ou educar
Letramento na Educação Infantil: cuidar e/ou educar

Por: Edilson Sousa dos Santos
RESUMO
O tema proposto para este trabalho refere-se ao Letramento na Educação Infantil no processo educativo na primeira infância, por meio de atividades do cotidiano do discente, e na construção de seus conhecimentos. Para tanto, o presente estudo expõem a diferença entre o que é a alfabetização e o letramento na Educação Infantil – EI. A metodologia aplicada se constitui em um levantamento conceitual da temática acima descrita, com base no letramento e na alfabetização. Com o estudo chegou-se ao rascunho de ter uma Educação Infantil – EI, com o objetivo de cuidar e educar, e que o ato de ler e escrever deve começar a partir da primeira infância para que os mesmo consigam uma compreensão muito abrangente de ler o mundo, e por fim o estudo apresenta sugestões para que o letramento ocorra no dia a dia.
Palavras-chave: Educação Infantil. Letramento. Alfabetização.
1 INTRODUÇÃO
A alfabetização na educação infantil é atualmente um dos assuntos relevante, pois em uma sociedade caracterizada pelo conhecimento, pelas constantes mudanças, pelas tecnologias e suas modernidades etc. Vem destacando-se qual é o papel da educação infantil, cuidar ou educar, ou ambos, para uma alfabetização eficiente e eficaz.
As mudanças ocorridas nas últimas décadas reconhece a criança como um sujeito de direitos, instituída pela Lei n. 9.394/96 que considerada a primeira etapa da educação básica, tendo como objeto de estudo e prática dois conceitos que devem estar em constante movimento nas instituições infantis: o cuidar e o educar. O primeiro já é conhecido e praticado – a alimentação, higiene e vestuário, ou seja,o cuidar. Já no segundo conceito, educar, surgiu a partir da promulgação da lei supracitada, como algo que requer uma formação específica. O significado da palavra “educar”, podemos encontrar da seguinte maneira: “promover a educação de (alguém), ou sua própria educação; instruir-(se)”, conforme relata Ferreira (1988).
Tanto no plano legal como foi mencionado, como no científico, têm se confirmado avanços no conhecimento e efetivação de uma educação da primeira infância ou educação infantil – EI, e de qualidade e que necessita de uma construção de práticas pedagógicas eficientes e eficazes no reconhecimento ativo no processo sociocultural dos atores sociais – as crianças.
Conforme Rios (1993) é preciso, ainda, assimilar novas formas de se relacionar com o conhecimento, a pesquisa, a organização e a função da comunidade no envolvimento da educação como um todo, atrelado a um ambiente que desenvolvem aprendizagens significativas que possibilitem aos alunos conhecerem o mundo e conhecerem-se no mundo, como condição para o desenvolvimento de sua capacidade de atuação cidadã” como relata Lück (2009).
Assim sendo, compreende-se que este estudo é de suma importância, o que certamente poderá contribuir para o incentivo a mudanças visando uma educação infantil, orientando o envolvimento dos pais, alunos e comunidade e assim podendo e devendo interagir no processo de ensino/aprendizagem, resultando na melhoria da qualidade educativa.
Portanto o presente trabalho tem relevância na discussão do tema “LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: cuidar e/ou educar”, nos remete ao contexto de uma sociedade grafocêntrica que influência no processo de aprendizagem desde os primeiros estímulos.
2 FUNTAMENTAÇÃO
2.1 Alfabetização
Na aprendizagem “inicial”, ou seja, na educação infantil, as práticas utilizadas são geralmente, baseadas na junção de silabas simples, mecanização, memorização, codificação e copias. Normalmente os professores utilizam o método sintético e método analítico. O método sintético preserva a correspondência entre o oral e o escrito, entre o som e a grafia, ou seja, processo que consiste em partir das partes do todo, já o método analítico insiste no reconhecimento global das palavras ou orações (Ferreiro & Teberosky). Com o tempo, ocorreu o método misto, ou seja, misturavam estratégias dos métodos sintético e analítico.
Segundo Rocha (2005) “a partir dos anos 50, a psicologia começou a fazer um enorme sucesso nas universidades do Brasil, e utilizaram as escolas para teste e/ou laboratório para os estudantes e pesquisadores da área. Sem formação pedagógica, sem formação linguística, os psicólogos começaram a aplicar uma variedade de testes e chegaram à conclusão de que a grande dificuldade de aprendizagem das crianças na alfabetização devia-se ao fato de as crianças repetentes serem de famílias carentes. Carentes de alimentação na infância, carentes de emoções que as motivassem para aquisição de cultura, enfim, carentes de praticamente tudo. Assim, não podiam aprender”.
Diante deste motivo foi idealizado o um período que precedesse a alfabetização, o chamado “período preparatório”, no qual as crianças seriam treinadas nas habilidades básicas. Neste período seriam aplicadas atividades para as crianças, a exemplo de realizar as curvinhas, completar figuras, fazer bolinhas etc. Além da cartilha e do manual do professor, surgiu, então, o livro de “exercícios de prontidão”. Entretanto não resolveu o índice de cinquenta por cento de reprovação na primeira série manteve-se mais ou menos inalterado. (ROCHA, 2005)
No início de década de 80, os resultados da pesquisa pioneira de Emília Ferreiro e Ana Teberosky, descrevendo a psicogênese da língua escrita a partir de referencial piagetiano, provocaram significativas alterações na fundamentação teórica do processo ensino aprendizagem da lectoescrita – é a habilidade adquirida de poder ler e escrever, deslocando seu eixo de “como se ensina” para “como se aprende” a ler e a escrever. (ROCHA, 2005)
Nesta perspectiva os conceitos de prontidão, imaturidade das crianças, habilidades motoras e perceptuais, deixam de ter sentido isoladamente, os aspectos motores, cognitivos e afetivos, devem ser estimulados, mas vinculados ao contexto da realidade sociocultural dos alunos. Segundo Rocha, 2005, essa nova concepção de alfabetização ficou conhecida como “construtivista” e explica que o aprendizado da leitura e da escrita segue uma linha de evolução regular, – são classificados em pré-silábico, silábico e alfabético, independente da classe social do aprendiz, de ele ter/não ter cursado a pré-escola e do dialeto falado. Ferreiro e Teberosky (1986).
2.2 Letramento
A palavra “letramento” e relativamente nova, pois no inicio da década de 80 ainda não ouvíamos falar sobre o assunto. Foi no ano de 1986 que Mary Kato, em seu livro “No mundo da escrita: uma perspectiva psicolinguística”, escreve as primeiras palavras, referindo-se ao tema. Dois anos depois, em 1988, Leda Verdiani Tfouni, em um dos seus livros, – “Adultos não alfabetizados: o avesso dos avessos“, “Alfabetização e letramento” em 1995. – escreve sobre a diferenciação de alfabetização e letramento. Na realidade, o termo originou-se de uma versão feita da palavra da língua inglesa “literacy”, com a representação etimológica de estado, condição ou qualidade de ser literate, e literate é definido como educado, especialmente, para ler e escrever.
Letramento é o estado em que vive o indivíduo que não só sabe ler e escrever, apresenta aspecto sócio-históricos, práticas psicossociais, e exerce as práticas sociais de leitura e escrita que circulam na sociedade em que vive. (SOARES, 2000; TFOUNI,1988).
Kleiman (1995, p. 19), define letramento como “um conjunto de práticas sociais que usam a escrita, enquanto sistema simbólico e tecnologia, em contextos específicos, para objetivos específicos”.
Para Soares (2001, p. 24):
[…] letramento é que um indivíduo pode não saber ler e escrever, isto é, ser analfabeto, mas ser, de certa forma, letrado (atribuindo a este adjetivo sentido vinculado a letramento). Assim, um adulto pode ser analfabeto, porque marginalizado social e economicamente, mas, se vive em um meio em que a leitura e a escrita têm presença forte, se interessa em ouvir a leitura de jornais feita por um alfabetizado, se recebe cartas que outros leem para ele, se dita cartas para que um alfabetizado as escreva (e é significativo que, em geral, dita usando vocabulário e estruturas próprios da língua escrita), se pede a alguém que lhe leia avisos ou indicações afixados em algum lugar, esse analfabeto é, de certa forma,letrado, porque faz uso da escrita, envolve-se em práticas sociais de leitura e de escrita. Da mesma forma, a criança que ainda não se alfabetizou, mas já folheia livros, finge lê-los, brinca de escrever, ouve histórias que lhe são lidas, está rodeada de material escrito e percebe seu uso e função, essa criança é ainda “analfabeta”, porque não aprendeu a ler e a escrever, mas já penetrou no mundo do letramento, já é de certa forma, letrada. (Grifo do original).
Seguindo as compreensões dos teóricos o letramento, deve ocorrer desde o momento em que a criança entra em contato com a linguagem escrita e oral, pois ela esta inserido no mundo grafocêntrico interagindo com o seu universo, e o seu convívio.
O letramento está muito presente nos dias de hoje, até mesmo na educação infantil. Vivemos em uma sociedade letrada ou uma sociedade grafocêntrica, ou seja, a escrita como centro de tudo e para mantermos as relações sociais há necessidade de cada vez mais estreitar a escrita como o principal vetor, e para que isto ocorra no processo do ensino/aprendizagem deve aparecer desde as atividades do cotidiano do discente, passando pelas relações socioculturais e ambientais e do seu convívio familiar.
3 METODOLOGIA
Para responder os questionamentos deste estudo utilizou os seguintes critérios: quanto aos objetivos, trata-se de uma pesquisa bibliográfica, ao incorporar uma revisão de literatura sobre o tema.
No tocante à forma de estudo, refere-se uma pesquisa exploratória, uma vez que se buscam mais registros e informações e assim uma maior compreensão relacionado ao tema em estudo, e descritiva, pois se pretende analisar, observar, registrar, classificar e interpretar os fatos relacionados. Os procedimentos metodológicos utilizados para este estudo levou em consideração as propostas por: Acevedo e Nohara (2004); Cervo (2007), Gil (2009) Lakatos e Marconi (1996) e Santos (2009), tomando como base classificação supracitada.
4 CONCLUSÕES
Podemos afirmar que existe uma diferença entre a alfabetização e o letramento. A alfabetização na tendência tradicional, encontramos uma diferença marcante e significativa, pois quando falamos de alfabetização no sentido tradicional, falamos de um processo de ensino-aprendizagem mecânico, repetitivo, sem significado e fora do contexto sócio-histórico cultural da criança. No letramento, essas concepções recebem outra visão, a do desenvolvimento da educação infantil com relação à linguagem escrita e oral que parte do princípio do que a criança sabe e o que faz parte do seu meio sociocultural, trabalhando com as práticas sociais da leitura e da escrita. Identificando toda manifestação de leitura e da escrita da criança como algo singular e intercedido de significados.
Assim como as sociedades no mundo inteiro, centradas na escrita, e com o Brasil não poderia ser diferente. Ser apenas alfabetizado ou codificador de letras, é insuficiente para vivenciar plenamente a cultura escrita e responder às demandas da sociedade atual, é preciso se letrar, ou seja, tornar-se um indivíduo que não só saiba ler e escrever, mas exercer as práticas sociais de leitura e escrita que circulam na sociedade em que vive (Soares, 2000).
Na educação infantil é um dever trabalhar com a concepção de letramento com as crianças desde o momento em que está chega à educação infantil, estimulando-a a participar ativamente do processo de construção da leitura e da escrita do seu mundo. Fazer com que as crianças tenham liberdade de expressão e que possam experimentar as múltiplas linguagens, como a música, a dança, artes, leituras da literatura infantil clássica e brasileira, histórias em quadrinhos, jogos, brinquedos e brincadeiras e tantas outras, é imprescindível adotar o letramento no dia-a-dia, na primeira infância.
Letramento é, portanto, a condição de ensinar e aprender as práticas sociais da leitura e da escrita. É o trabalho que o educador infantil deve realiza na sua sala de aula, oportunizando às suas crianças todo tipo ou vários tipos de linguagens escritas e orais, tais como: livros infantis, receita culinária, bula de remédio, jornais, revistas, cartas, bilhetes, rótulos e tudo que lemos e escrevemos da nossa realidade.
Na Educação Infantil – EI, não deve apenas cuidar, mas educar para o mundo. O ato de ler e escrever deve começar a partir de uma compreensão muito abrangente de ler o mundo, coisa que os seres humanos fazem antes de ler a palavra.
Sendo assim, enfatizo a importância da aplicação, do letramento desde a Educação Infantil, seguindo as orientações de Peixoto e para estimular a participação ativa no processo educacional, segue abaixo algumas sugestões:
1) investigar as práticas sociais que fazem parte do cotidiano do aluno, adequando-as à sala de aula e aos conteúdos a serem trabalhados;
2) planejar suas ações visando ensinar para que serve a linguagem escrita e como o aluno poderá utilizá-la;
3) desenvolver no aluno, através da leitura, interpretação e produção de diferentes gêneros de textos, habilidades de leitura e escrita que funcionem dentro da sociedade;
4) incentivar o aluno a praticar socialmente a leitura e a escrita, de forma criativa, descobridora, crítica, autônoma e ativa, já que a linguagem é interação e, como tal, requer a participação transformadora dos sujeitos sociais que a utilizam;
5) recognição, por parte do professor, implicando assim o reconhecimento daquilo que o educando já possui de conhecimento empírico, e respeitar, acima de tudo, esse conhecimento;
6) não ser julgativo, mas desenvolver uma metodologia avaliativa com certa sensibilidade, atentando-se para a pluralidade de vozes, a variedade de discursos e linguagens diferentes;
7) avaliar de forma individual, levando em consideração as peculiaridades de cada indivíduo;
8) trabalhar a percepção de seu próprio valor e promover a autoestima e a alegria de conviver e cooperar;
9) ativar mais do que o intelecto em um ambiente de aprendizagem, ser professor-aprendiz tanto quanto os seus educandos; e
10) reconhecer a importância do letramento, e abandonar os métodos de aprendizado repetitivo, baseados na descontextualização.
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